PROTEÍNA C REATIVA ULTRA SENSÍVEL
NA AVALIAÇÃO DE RISCO CARDIOVASCULAR POR DOENÇA ATEROSCLERÓTICA. 03/04/2007
A PCR é uma proteína produzida na fase aguda, isto é, as proteínas são
produzidas pelo fígado para combater a invasão de antígenos invasores. A PCR
foi descoberta em 1930 onde observou-se que poderia ligar-se ao polissacarídeo
C do pneumococo. Sabe-se agora que a PCR reconhece especificamente a
fosfocolina, porção hidrofílica da phosphatidylcholina, nas membranas
celulares. A complexação da PCR ativa as paredes celulares do complemento
através do caminho clássico, estimulando macrófagos e outras células para
submeter-se à fagocitose.
Os valores de referência de CRP é 0 a 1,0 mg/dl. Nos pacientes com inflamação
aguda, a concentração pode aumentar 1000 vezes. Por outro lado, outros
marcadores de fase aguda, tais como fibrinogênio, haptoglobina, ceruloplasmina,
e proteínas C3 e C4 do complemento aumentadas apenas em três vezes ou menos o
valor basal.
A liberação de PCR é mediada por citocinas tais como a interleucina-6, que
estimula os hepatócitos que preferencialmente estimulam a produção de proteínas
positivas de fase aguda no lugar de outras proteínas negativas de fase aguda
(tais como albumina e o transferrina). Concentrações elevadas são observadas em
pacientes com infecções, malignidade, stress, artrites, trauma, cirurgia, e
infarto agudo do miocárdio (IAM).
Embora a PCR tenha sido utilizada por muitos anos para o diagnóstico de lesão
ou inflamação do tecido cardiovascular, há um interesse renovado em seu uso em
doenças cardiovasculares. Isto é devido a uma melhor compreensão do papel da
inflamação na fisiopatologia das artérioescleroses e síndromes coronarianas
agudas.
Estudos clínicos mostraram que a PCR pode ser útil na classificação do risco de
indivíduos aparentemente saudáveis, e nos pacientes com angina instável e no
IAM.
Foi demonstrado que a mudança da angina estável para angina instável associada
a elevação nos níveis plasmáticos da proteína C reativa, soro amilóide A e
interleucina 6, os quais são indicadores de uma resposta inflamatória
sistêmica.
Comparada com outros marcadores inflamatórios e com parâmetros lipídicos, a
associação da proteína C reativa últra-sensível (PCRus) e eventos coronarianos
é forte.
Como parâmetro que melhora a predição do risco coronariano, pode-se demonstrar
o uso associado da PCRus com dosagem de colesterol e, em especial, com a
relação colesterol total/colesterol HDL.
Recentemente “Guideline” abordou a aplicação de marcadores inflamatórios
(exames sanguíneos), para a prevenção de eventos cardiovasculares, diretrizes
publicadas pela American Heart Association.
O texto analisou diversos fatores inflamatórios e conclui que nenhum deve ser
utilizado preventivamente em saúde pública. Contudo, conclui que PCR, como
técnica quantitativa, ultra-sensível, é exame de alto valor preditivo.
O referido “Guideline” traz conclusão prática. Apenas proteína C reativa
ultra-sensível é exame suficientemente estudado para ser aplicado na prática
clínica.
Para que serve a PCR ultra-sensível?
Estudos recentes mostram que mesmo um discreto aumento da PCR é um fator de
risco cardiovascular de outros já conhecidos, como os níveis de colesterol
total e frações, apolipoproteína B-100 e homocisteína. Na avaliação de risco de
doença cardiovascular, valores de PCR inferiores a 0,3 mg/dL são considerados
satisfatórios, enquanto que níveis elevados se associam a maior risco
cardiovascular. Esse fato está de acordo com as evidências recentes de que, ao
menos parcialmente, a aterosclerose é uma doença inflamatória.
Quem pode se beneficiar da dosagem da PCRus?
Os níveis séricos da PCR são relativamente estáveis, exceto na vigência ou logo
após um episódio de inflamação, de natureza infecciosa ou não. Nesses casos, a
dosagem com finalidade de avaliar risco de doença aterosclerótica só deverá ser
feita de duas a três semanas após o término do episódio inflamatório.
Que medidas podem ser tomadas quando, na avaliação de risco cardiovascular, se
detectam níveis superiores a 0,3 mg/dL de PCR?
Estudos preliminares mostraram que se pode considerar o uso de medicamentos
como a aspirina para pacientes com níveis elevados de PCR. Existem ainda
evidências de que a PCR possa ser usada para monitorar um possível efeito
anti-inflamatório de medicamentos usados para inibir a síntese de colesterol,
da família das estatinas. No entanto, uma vez que a relação entre PCR elevada e
risco cardiovascular aumentado é recente, não há até o momento diretrizes
estabelecidas quanto a melhor conduta frente a uma PCR persistentemente
elevada.
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